Quem
é o verdadeiro dono?
por Petrucio
Chalegre, Diretor-Presidente
"A
Nike não tem fábricas. Ao redor do mundo, milhões de consumidores entram
em lojas e saem portando seus prestigiados tênis, muitos sem cogitar que
a Nike não possui parques fabris. Mas a Nike tem maravilhosa propaganda.
Atletas famosos recebem milhões para calçar seus produtos. Peças publicitárias
multicoloridas encantam os olhos ao redor do globo fixando a imagem dos
produtos Nike, porém a única realidade da empresa são idéias e marca.
Esplendoroso
novo mundo este. Tudo que é sólido não se desmancha no ar, pelo contrário,
ganha sua solidez por estar no ar. O bem mais consistente é aquele baseado
na capacidade de fazer uma marca firme. O poder maior é o da comercialização.
Possuir máquinas,
ter uma linha de produção, ser um industrial, é apenas ser um dependente.
O verdadeiro dono do negócio é quem possui a marca, quem detém a possibilidade
de comercializar. A grande máquina é imaterial, seus mecanismos são peças
publicitárias, algumas delas penduradas em homens, eles mesmos veículos,
porque suas camisas estão expostas nas telas eletrônicas e cada gesto
seu será visto milhões de vezes ao redor do globo.
Instaurado este mecanismo, o poder mudou de lado. Como sempre ocorre,
os padrões anteriores não estão adaptados aos novos tempos. Suponha-se
o dono de uma empresa com uma marca fabulosa, projetistas e publicitários
brilhantes, contratos publicitários milionários a conversar com um banqueiro
que lhe pede garantias "reais", que pode ele dizer? Que tem bits eletrônicos
viajando pelo mundo? que tem camisetas com sua marca nas costas de um
time campeão? Que tem projetos dentro de micros?
O que o banqueiro quer é um imóvel que possa ser penhorado, máquinas pesadas
que sirvam de garantias. E como avaliar com segurança uma marca cujo valor
pode ser abalado por uma notícia negativa?
Não é de admirar que nos últimos anos tenha ganho o lugar de primeira
fortuna do mundo um Bill Gates. Seu principal bem é invisível para os
olhos. Um sistema baseado em matemática binária que pode ser transmitido
de um lado ao outro do mundo na velocidade da luz. Os principais valores
do mundo estão concentrados nos bens imateriais. O fenômeno já aconteceu
antes quando os principais valores deslocaram-se da terra e seus produtos
para as fábricas e os bens industriais. Assistimos apenas a mais uma revolução
que modifica o lugar onde estão ou se localiza a riqueza mais significativa.
Por isso as fábricas estão indo para os países mais pobres, a riqueza
real passou a ser outra: possuir a marca, saber aperfeiçoar constantemente
os projetos, deter a máquina de comercialização em suas mãos.
Este é o motivo pelo qual erram todos os que pensam em terceirizar máquinas
de vendas. Toda a produção pode ser terceirizada, não é ela a verdadeira
fonte de poder. O verdadeiro dono de um negócio é aquele que pode chegar
aos clientes através de mensagens e informação. Quem produz transforma-se
cada vez mais em alguém tão pouco poderoso como o pequeno produtor de
milho que sequer compreende como seu produto transformou-se em sucrilho,
sendo o milho dentro do pacote muito menos valioso que o pacote em si
com a foto do jogador nele estampada."