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Transgênicos, o que vai acontecer
por Petrucio Chalegre, Diretor-Presidente

"Os transgênicos tendem a ser vitoriosos. É uma questão de tempo. Não vamos discutir o mérito e as lutas que uma novidade de tal porte costuma produzir. Em lugar disto vamos examinar os acontecimentos semelhantes pelos quais já passamos.

A introdução de modificações genéticas é um acontecimento comum na natureza. Mais que comum, é o mecanismo pelo qual surgiu toda a diversidade biológica. A natureza faz isto aleatoriamente, produz a abelha com seu mel e o escorpião com seu veneno. Deixa ao processo de seleção darwiniano a decisão sobre o que sobreviverá e o que falhará, sendo extinto, por ineficiente, como a enorme maioria das espécies que já habitaram a Terra.

Os transgênicos são a interferência do homem no processo de seleção natural e criação de espécies novas. É coisa nova? Não. Viemos metendo a mão na natureza desde o dia em que começamos a cruzar raças de cães, selecionamos vegetais para cultivar, escolhemos sementes melhores.

Mais ainda. Transferimos espécies de um continente ao outro, às vezes com terrível impacto, como as cabras destruindo toda a vegetação de ilhas do Atlântico. Outras vezes com resultados maravilhosos, afinal só há coqueiros nas praias brasileiras porque algum português os trouxe da Índia. E só comemos mangas e jacas por importações semelhantes. Nada disto havia aqui em 1500.

A questão é: por que você diz que os transgênicos ficarão? A resposta: porque a humanidade sempre arrostou os riscos fazendo contas de custo versus benefício. Vamos até a cozinha das casas, o fogão é a gás. Perigoso, todos os anos morrem pessoas em explosões, outros asfixiados por escapamentos em aquecedores. Alguém fala em retornarmos aos fogões à lenha? Não. Por que? Porque o conforto é compensador, assumimos as desvantagens e não se fala mais nisso.

O mais dramático exemplo é o automóvel, quase ninguém o dispensa, no entanto ele custa dezenas de milhares de vidas por ano, um custo tremendo, que, racionalmente, justificaria a proibição de sua fabricação e a destinação de todos os recursos envolvidos aos transportes públicos. Quem acha que uma proposta destas tem chances?

Os transgênicos acabarão produzindo resultados brilhantes. Esta é apenas a primeira geração. Começaram a ser lançados em 1984, até agora não se comprovou nenhum efeito maléfico, e se ocorrer, uma espécie pode ser de novo modificada. Nada comparável aos efeitos mortais do álcool e do cigarro. Significa queda de custos, produtos melhores em muitos sentidos. De onde veio então tamanha oposição? De um erro monumental de marketing. A Monsanto viu em seus produtos uma oportunidade de domínio, pensou em algemar os produtores a sua teia, passou a toda a população a imagem de um império do mal.

Deveriam as empresas que lançaram os primeiros produtos pensar primeiro em beneficiar a humanidade. Tivessem se concentrado nas vantagens para todos, em lugar de em monopólios de tecnologia, teriam uma aceitação muitas vezes melhor. Seria como a entrada do milho e da batata na Europa. Uma grande mudança, mas com grandes vantagens e redução da fome. Da maneira em que se lançaram ao mercado, como bárbaros dominadores, só podiam colher a oposição dos idealistas. Mais uma vez a lição do que o orgulho e ambição desmedidos podem fazer."

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