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Mitos e metáforas.
por Petrucio
Chalegre, Diretor-Presidente
As nossas
afirmações acerca da inutilidade para os empresários de métodos mágicos
despertaram, como era de se esperar, apaixonadas opiniões. Revisando:
argumentamos que a astrologia para selecionar pessoal, o feng shui para
a arquitetura, a numerologia para escolher nomes, o tarot para definir
estratégias, não passam de artifícios primitivos com a finalidade de disfarçar
a incompetência decisória dos que os contratam. Sem contar com o desperdício
de dinheiro usado para pagar estes não tão novos feiticeiros.
Desprezando as diatribes dos que são apenas seguidores e dos interessados
em vender estas ficções, resta uma abordagem, que pela sua profundidade,
vale a pena considerar: os mitos tem uma evidente utilidade na cultura
humana e mais que realidades representam metáforas. Exemplificando: pode-se
dizer que o mito do herói de origem divina que vem ao mundo através de
uma mulher escolhida e se sacrifica pelos homens, é recorrente. Podemos
citar muitos casos: Hércules, Krishna, Joshua. Em cada caso o modelo representado
serve para inspirar os homens e ajudá-los a se compreenderem. Negar a
utilidade destes espelhos nos quais os homens se enxergam é ter uma visão
estreita que ignoraria o papel das religiões.
Dentro desta abordagem, muito bem explorada por Carl Young e Joseph Campbell,
o significado da astrologia, por exemplo, não seria o de representar uma
realidade objetiva, mas sim uma metáfora, uma representação no terreno
subconsciente que ajudaria os homens a olhar para seus íntimos sem medo,
visto que fatores externos seriam os responsáveis por suas idiossincrasias
e destinos.
Magnífica a análise realizada por Campbell em sua tetralogia "As máscaras
de Deus" sobre estas metáforas, que ressurgentes em todas as culturas,
mostram arquétipos que falam a todos os homens. O inconcebível é que os
dirigentes que compram serviços deste tipo sequer compreendam que estão
a confundir metáforas com realidades, ora os mitos não são verdades ou
mentiras, são instrumentos para a introvisão, são representações. Amuletos
e talismãs não aumentam a eficiência ou os números do balanço.
A questão que permanece não é a da utilidade dos mitos na compreensão
da psique humana e sim o desperdício de recursos econômicos escassos em
modas supersticiosas que se sucedem com as estações. A administração de
empresas já padece de uma insuficiência metodológica, gurus surgem como
cogumelos com abordagens as mais mirabolantes sem nenhuma contestação
séria. Análises numéricas e pesquisas sobre o comportamento funcional
são uma carência mundial, é preciso que as empresas iluminem suas decisões
com a razão e não que mergulhem na incerteza dos métodos da Idade das
Trevas, senão em breve estaremos escolhendo gente pela cor dos olhos em
vez de pelo conteúdo de seus cérebros.
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