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É possível a fixação no campo?
por Petrucio Chalegre, Diretor-Presidente

Novos dados indicam que apenas 15 % da população brasileira resta no campo. É freqüente assistir discursos inflamados defendendo a fixação do homem à terra. Estas declarações vem muitas vezes eivadas de um indisfarçável sentimento citadino, o desejo de não ver chegar as cidades mais migrantes. É preciso examinar melhor alguns fatos:

Na década de 50 o Brasil tinha 70% de sua gente dedicada a agricultura, no decorrer de uma geração a proporção mais do que se inverteu, tampouco por isso houve queda da produção agrícola, pelo contrário, o volume total das colheitas acompanha em relação inversa a urbanização. Quanto mais gente sai do campo mais cresce o total de alimentos colhidos. Existe, é certo, decadência em setores e regiões, mas largamente compensada por crescimento em novas áreas não refratárias ao desenvolvimento tecnológico, em geral localizadas longe das de estrutura arcaica.

A concentração urbana nos EUA atingiu tal ponto que as cidades deixam para o campo apenas 3% dos americanos. É esta restrita parte que produz a maior safra mundial, os maiores excedentes, a maior abundância. São sete milhões e meio de pessoas, o Brasil tem três vezes este volume de possíveis produtores.

É interessante verificar que 12% dos vizinhos do norte são hoje "colarinhos azuis", aqueles que se dedicam à indústria. Todo o restante está no setor terciário da economia. Desde que os EUA são a sociedade em que primeiro tem se manifestado os impactos da evolução tecnológica vale considerar que as mesmas forças atuam aqui.

Na Europa alguns estados tem conseguido manter mais gente dedicada ã terra, porém isto tem custado um dinheiro respeitável, significa manter pequenas empresas rurais altamente subsidiadas, na Alemanha chegou-se ao extremo de remunerar para que não se cultive. O agricultor ganhará do estado desde que se limite a observar o mato crescer em suas terras. Problemas da superprodução.

O resultado destas poucas observações indica que é possível fixar o produtor primário em seu lugar de origem, isto pode proporcionar um crescimento da justiça social, porém o custo financeiro é respeitável, que o digam os raros assentamentos bem sucedidos. Eles precisam de tecnologia, capital, escolas e qualidade de vida que não façam os jovens irem correndo para a urbe mais próxima em busca de vida e acasalamento. Por outro lado é fácil verificar que, dada a mecanização atual, alimentos a custo baixo não são o que a propriedade de pequeno porte pode produzir, ela precisa de renda e sua vocação só é rentável se sofisticada, cereais são para grandes empresas, pouca gente e muita máquina. É por este motivo que o valor dos alimentos caiu 57 % no mundo de 1980 para cá.

Eis aí descritas as razões pelas quais um movimento como o MST só subsiste embalado pela desigualdade brasileira. Seu embasamento lógico é falho e não encontra respaldo na tendência histórica, fosse o país abundante em recursos financeiros poderia subsidiar parte de sua gente para cultivo sem rentabilidade, modelo japonês que produz arroz a peso de ouro, mas não é, somos pobres de recursos, com o tempo os assentamentos se esvaziarão empurrados pela lógica dos custos, quem terá feito bom negócio? os que venderam terras griladas para o governo, pagas com nossos mirrados impostos."

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