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Feng Shui ou a idolatria.
por Petrucio
Chalegre, Diretor-Presidente
Sempre
me pareceu admirável que não ressurgisse a adoração do sol, mas os últimos
acontecimentos no meio empresarial certamente acabarão por me desmentir.
Agora, como diz a revista Exame, o último grito é o Feng Shui. De que
se trata? Pura mágica: se sua carreira não decola desloque sua escrivaninha
3 centímetros para a frente, se precisa mais clareza ponha um cristal
em cima da mesa. Ao lado de conselhos de pura sensatez arquitetônica,
conceitos do tempo em que o mundo era formado por quatro substâncias.
Ignorância de quem desconhece a tabela periódica dos elementos, afinal
de contas ela só tem um século de existência e quem vai discutir com os
sábios antigos da China ? Rutherford devia calar-se diante deles.
A adoração do sol seria mais coerente. Todos os dias nasce sem falhas.
Já notaram que não existe nenhuma seita pregando que o astro rei vai surgir
amanhã? o motivo é que ninguém duvida deste fato, só o que é incerto precisa
de pregadores, e ai dos que duvidarem: fogueira com eles, se não literal,
pelo menos protestos como os que receberei dos adeptos ofendidos. Faríamos
como os antigos, reverenciaríamos a alvorada e pelo menos iríamos trabalhar
cedo.
Por que empresários resolvem gastar até 1500 reais por dia de consultoria
com os novos feiticeiros da arquitetura? Porque suas certezas se esvaíram,
porque não confiam na lógica e na técnica de uma boa administração. É
melhor atribuir os fracassos ao fato de não ter um elemento aquático no
escritório, à cor da parede de entrada, ou como algum tempo atrás, com
a moda da numerologia, à falta de uma letra dobrada no nome. O elemento
sorte acaba com as considerações de competência. A responsabilidade dos
fracassos passa a ser território dos deuses e os acontecimentos decididos
pelos seus humores lá no olimpo.
Não existe futuro neste tipo de administração. A humanidade já teve períodos
bem longos em que as crenças superaram. a razão. Foi por não ter uma casta
sacerdotal que os filósofos gregos puderam fazer os livres avanços de
seu período áureo, e foi o domínio das crenças incontestáveis que estancaram
o pensamento durante os mil anos que precederam o renascimento.
Não basta aos articulistas citar empresas famosas como adeptas das novas
modas. Isto apenas informa como estão desorientados seus dirigentes, e
como podem rir deles os que lhes vendem ilusionismo no lugar de esforço
e trabalho duro. Mas, acima de tudo, temos que lamentar os que procuram
ensinar técnicas de resultados mensuráveis. O mundo dos profissionais
que buscam a competência vê empregos e capitais serem consumidos com o
desvio de empresas à procura da fumaça das pitonisas e da prestidigitação
vazia dos feiticeiros.
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