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Ninguém quer emprego
por Petrucio Chalegre, Diretor-Presidente

"O que todos querem é renda. Quando se diz que a população demanda empregos é porque todos assumiram que sem estes aquela não existirá. Na verdade não é bem esta a história da humanidade. A aristocracia sempre viu a necessidade de trabalhar como um vexame. As mulheres das classes mais altas usavam longas unhas pintadas porque isto mostrava que suas mãos não faziam serviços capazes de quebrá-las. Os homens portavam cartolas e não boinas, afinal com chapéus delicados não se podem carregar sacos. O apanágio das classes altas eram roupas, que pela sua fragilidade, indicavam que estavam desobrigados de trabalhos vis.

Durante séculos uma dama devia ser pálida, só as camponesas tomavam sol, uma pele queimada indicava baixa posição social. Quando ir a praia e tostar-se passou a custar dinheiro, a comprovar o ócio, então uma cor bronzeada passou a indicar posses. Inverteu-se o sinal, o pálido não pode ir a praia portanto tem menos renda.

Isto posto verifica-se que o desafio de uma economia cada vez mais independente do trabalho humano é proporcionar renda. Ninguém quer emprego, no máximo o que o ser humano deseja é realizar-se criando coisas, sentindo-se socialmente útil, deixando marcas no mundo.

Alguns dirão que não é verdade, que não podem se imaginar sem trabalho, esta afirmação seria motivo de riso para qualquer aristocrata nos últimos 10 000 anos, trata-se de um condicionamento que cabe perguntar se não foi criado pela nobreza. A medida em que máquinas inteligentes diminuam as tarefas em que os homens são imprescindíveis, mais e mais pessoas, sempre as de menor preparo intelectual, serão inempregáveis.

Se os não ocupáveis ficarem sem renda, automaticamente um contingente de revoltados será criado. Se o país produz bem, através de sua tecnologia e investimento, precisa de consumidores. Necessita que todos tenham boa renda para que o mercado seja amplo. A capacidade de compra tem que se igualar a capacidade de produção sob pena de desequilíbrio só resolvível através de comércio externo que também estará sujeito aos mesmos fenômenos.

Resta portanto a solução óbvia de um grande sistema de renda mínima a ser sustentado pelos estados nacionais. Pode ser através de empregos? Sim, por meio de investimentos em arte, lazer, educação alternativa e o que mais ocorrer. Nosso raciocínio leva-nos à contramão do estado mínimo porque só este poderia equilibrar sem o conceito do emprego que se esvai, um mundo em que poucas pessoas sejam necessárias para produzir tudo de essencial que se deseje. Na verdade este seria, desde que com renda, o paraíso que Adão perdeu ao ser obrigado a ganhar o pão com o suor de seu rosto.
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