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Internet
de graça. Provedores, a ordem é: mexam-se!
por Valéria
Chalegre, Jornalista Web Editor/Internet Business
"Uma
nova revolução atinge em cheio a Internet brasileira. Depois dos principais
provedores brasileiros, ZAZ e UOL, baixarem os seus preços de R$ 35,00
para R$ 19,90, e do ZAZ ainda por cima sortear 500 computadores entre
seus usuários, novos e estrondosos fatos caíram como bombas no mercado
de acesso à rede. Bancos passaram a dar acesso gratuito à Internet. Surgem
pelo menos dois provedores que estão oferecendo acesso de graça a qualquer
usuário que assim deseje. O Internet Grátis, ou simplesmente IG (www.ig.com.br),
tem capacidade inicial para atender 1 milhão de usuários, meta que pretende
atingir em um ano. Temos também o BRfree (www.brfree.com.br),
com capacidade para atender 700 mil assinantes. Somente o IG cadastrou,
em suas primeiras 12 horas de funcionamento, nada menos do que 35 mil
usuários. O IG vem com uma proposta de ser o segundo provedor de seus
usuários, e não disponibiliza, neste primeiro momento, serviço de e-mail,
mas o promete para logo, assim como publica notícias e lançará um chat,
além de prometer atender com acesso 83 cidades.
A associação de provedores do Brasil já está com ação junto ao CADE para
bloquear o que está chamando de concorrência desleal e predatória. Não
havia dúvidas de que esta bomba incomodaria os provedores. Provavelmente
provoque mesmo algumas quebras, mas o movimento que se observa agora era
bastante previsível e já acontece nos Estados Unidos. Esta é uma onda,
como muitas outras que já vivemos, que não pode parar, não vai parar.
Trata-se de surfar sobre ela, ou... fechar as portas. O mercado de Internet
prova-se mais uma vez hiperdinâmico, e a necessidade de adaptação rápida
está novamente na espreita dos grandes executivos do meio.
Ora, sabe-se que o grande trunfo de qualquer serviço de informação é o
espaço publicitário que ela valoriza, e não a venda de assinaturas. Garantir
uma massa de pessoas suficiente sim, é fator indispensável para se ter
espaço publicitário de valor. Esta é uma questão muito clara ao diretor
presidente do Universo On Line, Caio Túlio Costa, que em entrevista concedida
há cerca de seis meses afirmou que o seu negócio não era acesso, e sim
conteúdo, tenha-se em vista que a empresa é formada pela Abril e pela
Folha, cujos negócios estão alicerçados em informação e publicidade. O
provedor, já há algum tempo, cobra o acesso aos seus carros-chefe, a Revista
Veja e a Folha de São Paulo. De qualquer forma, não é possível esquecer
que para o próprio Universo On Line, o acesso é a principal fonte de sua
renda: 95% do seu faturamento provém da venda de assinaturas. Certamente
também o UOL sofrerá com esta forte concorrência que está surgindo.
O processo de oferecimento gratuito de acesso à Internet era óbvio: falava-se
já há algum tempo da grande vantagem para os bancos e supermercados que
seus clientes deixassem de frequentar suas lojas físicas e fizessem suas
compras e operações exclusivamente através da rede. É natural que o mercado
agora sinta-se maduro para atender à esta demanda, tendo em vista que
os serviços bancários on-line estão decolando e que o Pão de Açúcar e
todo o E-commerce esteja se tornando viável e rentável. O que resta aos
provedores? Investir pesado em conteúdo, serviços e comércio eletrônico.
A natureza do negócio Internet mudou. Passa a ser essencial garantir que
o maior número de pessoas possível tenha Internet, para que possua o veículo
que lhes dará acesso ao consumo diferenciado, específico, personalizado,
seguro, tanto de produtos, quanto de serviços e, principalmente, de informação.
Não é à toa que a gigante mundial do ramo, AOL, investiu tão pesado na
compra da Time Warner. Afinal, seu objetivo é também prover conteúdo,
e certamente sabe que não pode continuar baseando seu faturamento em assinaturas.
Que mexam-se os provedores nacionais... Afinal, onde estão os produtores
de conteúdo para banda larga, que já está chegando? Eles certamente terão
um grande mercado a atender, inclusive o mercado atual de provedores de
acesso, que agora precisa correr atrás da máquina e turbinar os seus portais
com conteúdos tão especiais que valha a pena pagar para tê-los. Ou que
interessem a uma massa tão grande de pessoas - ou uma massa tão selecionada
- que interesse aos anunciantes financiá-los.
Analisemos o caso da televisão. Trata-se de uma história exemplar. Atualmente,
a TV aberta é destinada apenas às classes C e D, para não falarmos da
classe E, também dona de seu aparelho. Da metade da noite em diante, em
todos os canais abertos, a opção são os programas de auditório. Os programas
jornalísticos competem entre si para ver quem é mais sensacionalista.
Nem mesmo o Jornal Nacional escapou desta, mudando o seu formato insistentemente
nos últimos tempos. Quem quiser um conteúdo um pouquinho melhor paga por
isso e assina TV à Cabo ou Satélite. A Internet segue o mesmo caminho:
quem tiver computador e linha telefônica, terá Internet automaticamente.
Os conteúdos livres tendem a ser mais populares e atender grandes massas.
Público selecionado, sites com entrada paga.
Ah, sim, os computadores ainda são muito caros? É verdade. Mas o ZAZ já
está sorteando 500 PCs. O próximo passo, esperem, será cópia do que acontece
nos EUA: computadores financiados pelo preço mensal de uma conexão. Eles
se multiplicarão, e muito. Serão dados de graça para os consumidores de
cartões de crédito fazerem suas compras on-line. É só uma questão de tempo.
Uma coisa curiosa é que a Internet via cabo, que deve decolar em breve,
vai partir do chão já enfrentando esta concorrência do acesso gratuito
através da linha telefônica. A questão toda, ao que parece, não está no
acesso à rede Internet, mas sim no acesso da casa do usuário até o provedor.
O pulso telefônico continua existindo, e no caso do provimento à cabo
ou à satélite, significará uma grande redução de custo, o que deverá motivar
os usuários a fazerem assinaturas pagas via cabo, associadas ao seu serviço
de conteúdo para televisão, para terem o direito de acessar a rede com
velocidades de 2Mb. Aliás, o conteúdo de televisão paga tende, a cada
vez mais, atender a uma estética de Internet, ou seja, ser interativo.
Quanto ao provimento de acesso, este passará a ser negócio apenas para
as grandes parcerias: afinal, por que um supermercado de pequeno porte
montaria um provedor e uma complexa central de atendimento se pode firmar
um acordo operacional com um grande provedor? Eis um nicho de mercado
que precisa ser explorado: parcerias para provimento de acesso à públicos
específicos, como forma de fidelizar clientes dos grandes varejos que
agora migram para atender também o mercado pulsante da Internet."
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